Por Psicólogo Ronaldo
Por que a criança passa a ter comportamento agressivo? Por que agride o colega na sala de aula, os irmãos ou o amiguinho no parque com frequência tal que atrai críticas constantes?
A primeira vez que sua criança se envolveu em confusão pareceu situação corriqueira. Se na escola você se atentou para a versão da professora ou da diretora, em casa, depois de conversar calmamente e explicar por que ela não pode agir na base da violência, você a abraçou.
Havia em você a esperança de que o caso não fosse se repetir. Na cabeça, a opinião de que o ocorrido fora ocasional. Afinal, que criança nunca provocou confusão na escola? Que pais jamais visitaram às pressas a sala da direção, atraídos pela notícia de que seu filho envolveu-se em briga com um ou mais coleguinhas durante o horário de aula ou no intervalo?
Chegaria, no entanto, o tempo que a situação se tornaria incômoda por causa da frequência. De repente, tem-se a sensação de que qualquer coisa que se dissesse ou fizesse surtiria pouco ou nenhum efeito para mudar a realidade.
Em alguns casos, guiados pela ideia de que fosse aqueles coleguinhas, aquela escola ou aquela professora a causa do mau comportamento – visto que em casa a criança é tão diferente –, os pais resolvem mudar o filho para outro estabelecimento.
Quão decepcionante é constatar que a mudança de endereço não alcançou os resultados esperados. Se nos primeiros dias de presença na nova sala de aula acontecer incidentes, o recém-chegado corre o risco de receber rótulo de “criança problema” que veio transferido por ter sido banida de outra escola.
Quando a convocação pela direção escolar para tratar de atos de indisciplina do filho começa a ser repetida, os pais não serão os únicos a sentirem o desconforto. Ainda que pareça indiferente, a criança experimentará grande ansiedade, abalo da autoestima e não raro o prejuízo do desempenho escolar.
O desconforto dos pais vem traduzido na dúvida: será que está cometendo erros na maneira que educa seu filho?
Para a criança, o desconforto virá de vários lados. Da bronca ou castigos dos pais, das críticas de parentes, do afastamento dos colegas na sala de aula e de ser visto como aluno problema pelos adultos. Por que a criança passa a ter comportamento agressivo, por que agride o colega na sala de aula, os irmãos ou o amiguinho no parque com frequência tal que atrai críticas constantes?
Todo ser humano é único. Para se compreender o comportamento de uma pessoa recomenda-se analisar fatores como o histórico de vida e o entorno social. No caso da criança, não seria diferente.
Para encontrar o motivo da agressividade infantil requer dedicada investigação psicológica. É preciso considerar todos os prováveis pontos. Por exemplo, de que a criança pode apelar para a agressão quando se sentir ameaçada, por ter encontrado na agressividade meio de chamar atenção ou porque está imitando o que os pais fazem quando se relacionam.
O critério de seriedade da investigação é buscar os reforçadores da agressividade, sem, contudo, deixar-se seduzir por preconceitos. O que está em jogo é oferecer meio sadio à criança para que desenvolva habilidade para ser socialmente aceita.
Saber como se organiza a família, como estão os vínculos afetivos dos adultos, como está o casamento dos pais – ou a convivência pós-separação – pode rastrear a origem da ansiedade. Ao diminuir essa ansiedade ao remover os fatores estressores, haverá condições de extinguir o comportamento agressivo disfuncional.
A maneira como a mãe, pai ou responsável manejam a própria ansiedade e lidam com as frustrações também serve como excelente referência da conduta aprendida pela criança. Estando em importante fase de desenvolvimento, na qual a elaboração do pensamento ainda é primária, é compreensível que a criança reproduza atitudes dos pais sem se dar conta.
Ao longo da terapia, os pais acabarão percebendo quais as próprias atitudes podem estar reforçando o comportamento agressivo do filho. O processo terapêutico não visa achar culpados. Ao contrário, quer servir de suporte familiar e trazer qualidade para a relação de pais e filhos.
O foco do processo é oferecer ajuda especializada aos pais, à escola e à própria criança, sempre guiado pelo propósito de aumentar a saúde mental dos adultos para que possa conduzir de modo satisfatório a inserção da sua criança na vida social.