Por Psicólogo Ronaldo
Um dos grandes sofrimentos pelo qual passa o ser humano é quando não é compreendido, quando sente que sua opinião não faz diferença. Nessa situação, a autoestima costuma sofrer um duro golpe: a pessoa sente que suas palavras nada ou pouco ajudam durante a conversa com a pessoa que tem valor especial.
Se nas demais relações sociais, a incompreensão é incômoda, imagina que estrago não provoca quando a falta de diálogo acontece no seio da própria família.
Ser vítima de mal entendido pode ocorrer a qualquer momento ou em qualquer idade. Mas há período considerado crítico, no qual a falta de diálogo ou de entendimento mútuo gera graves complicações. Um desses períodos, se não o mais marcante, é o da adolescência.
Complicações surgidas na adolescência, quando não solucionadas ou mal encaminhadas, podem se estender por longo tempo e atrapalhar o desenvolvimento cognitivo e emocional.
Como o ambiente familiar é o primeiro convívio social para a maioria das pessoas, se espera que a relação com os pais possa influenciar ou determinar a maneira como o indivíduo tomará futuras decisões cruciais para seu pertencimento na vida social.
Por que meu filho não me escuta, finge me ignorar ou não segue minhas orientações? Desabafa a mãe ou pai que sonha manter uma conversa sadia, sem atropelos.
O jovem de hoje tem pouco ou nenhum respeito pelos adultos. No meu tempo, bastava meu pai olhar para mim para eu sabia o que ele queria? Esbraveja o pai ou mãe que não consegue controlar o descontentamento.
Meus pais acham que sabem de tudo. Nem dão a chance de eu me explicar. E logo vão me chamando de irresponsável, preguiçoso ou que por sua experiência de vida não dá para ouvir o que eu falo e concordar. É a opinião do filho ou filha que se sente sufocado pelas broncas que leva.
Pai, mãe e filho, no exemplo citado, padecem da síndrome da incompreensão mútua, da conversa cortada, do diálogo interrompido.
Para essa pessoa, seja qual papel esteja vivenciando – o de pai, de mãe e de filho – é fato observar que a opinião que emite no intuito de buscar aproximação acaba servindo mais para afastar.
De repente, é como se cada frase dita servisse para reforçar o mal-entendido que há muito vem atrapalhando a conversa. Embora o impulso que motivou a pessoa a dialogar foi o de esclarecer a situação, no fim da conversa, fica a sensação de ter servido para piorar a confusão.
Que estranho viver numa época na qual abunda meios de comunicação em massa, acessíveis para todos, como internet e celulares, pensado e criado para incentivar o diálogo em tempo real com pessoa que esteja até nos recantos mais longínquos do mundo, enquanto em casa eu nem consigo saber como foi o dia do meu filho, queixa-se a mãe que se sente tolhida quando tenta aproximação.
O que está na base do desentendimento? Por que a mãe não consegue conversar com o filho sem que a impaciência brote e o faça sair para a rua batendo a porta?
Por que o filho não consegue transmitir sua opinião sem que a mãe ou pai façam careta para o conteúdo, negando-se dar ouvidos aos detalhes que poderiam desfazer preconceitos e que somente servem para desqualificar o que o jovem expõe?
O que fazer para a conversa voltar ou passar a fluir sem atrito, unindo em vez de afastar os membros de uma família?
Embora cada família possua uma maneira particular de educar, transmitir regras, incentivar a cooperação, observam-se nas famílias cujos pais não investem na qualidade da relação, o afastamento físico e emocional dos filhos.
O que estaria na base da esquiva do filho? O que estaria mantendo o afastamento? Qual parte do conteúdo estaria provocando a irritação a ponto de incentivar que o filho se nega a ouvir as observações da mãe ou do pai? Observe que no caso aqui não há falta de amor e valorização. O que falta é saber verbalizar esse sentimento positivo.
Antes de qualquer resposta generalista, aconselha-se investigar a dinâmica da relação família, o que requer que a família busque um especialista que serva de mediador, ainda que seja por um ou dois encontros. Assim, será possível reconhecer que tanto a mãe ou pai valorizam o filho como são valorizados por ele.
O miolo da questão está na forma como conduzem a conversa.
Parto do princípio que, com exceção a um reflexo, tendemos a agir antes de pensar. Somos guiados por pensamentos prévios antes de emitir dado comportamento. O comportamento por sua vez gerará uma emoção positiva – que nos faz querer estar perto de uma pessoa – ou negativa – que nos faz esquivar da pessoa.
À medida que se torna constante esse comportamento de esquiva do filho, acaba gerando uma contrapartida na mãe. Assim, a mãe continuará emitindo o comportamento inadequado, o qual serve para que o filho se afaste, ou, no mínimo, se recuse a ver o benefício que os conselhos maternos poderiam proporcionar.
Observo novamente que cada comportamento voluntário produz uma emoção. Assim, quanto mais tempo a mãe não consegue falar com o filho do modo que ela gostaria, ela sentirá um aperto no peito que a fará sofrer. Poderá desenvolver magoa que a fará silenciar ou insistir no comportamento inadequado por acreditar ser o melhor.
O filho, por sua parte, que também gostaria de ser entendido por sua mãe, mas não vê evolução ou brecha para o entendimento, permanecerá no comportamento inadequado, batendo a porta, colocando fone no ouvido ou evitando o contato visual.
O psicólogo pode ajudar exercitando os pais e filho a conversar de modo mais focado, dando atenção ao conteúdo, evitando julgamento antecipado ou prejudicial.
Como mediador, o psicólogo pode estimular que cada um fale sem ser interrompido e permita que cada um explique seu ponto de vista e aponte que comportamento vê como inadequado na outra pessoa. A indicação da mudança no comportamento será sugerida pela própria família.
Os pais seriam incentivados a ver o filho mais com um amigo, no caso de estar no fim da adolescência ou já na vida profissional.
O filho seria incentivado a ver os pais não como pessoas que sabem tudo e tem toda a experiência, que são detentores do conhecimento. Antes, será vistos como pessoas que têm um papel específico de condução da família, mas que são passíveis de erros e de manias que podem estar atrapalhando melhor qualidade no diálogo.
Como mediador, o psicólogo apontaria os pontos fortes e fracos dos pais e filho ou filha, no sentido não de diminuir um ou outro, mas de incentivar que cada um ofereça e receba apoio.
Ao fim da psicoterapia, espera-se que a família resgate ou desenvolva a escuta solidária e interessada, a qual ajudará a família a lidar com outros obstáculos que surjam ao longo de sua história.