olhando pela janela

A ANSIEDADE NEM SEMPRE É PROBLEMA

13 de janeiro de 2024 - 18:34

Por Psicólogo Ronaldo

MinutoEstardeBem – O que é a ansiedade?

Psicólogo Ronaldo – Ansiedade é um termo cada vez mais divulgado. É raro encontrar pessoa que não consiga emitir opinião sobre o assunto. E quando se descreve uma pessoa ansiosa, é fácil visualizar alguém tenso, impaciente, aflito.

É aconselhável, contudo, conhecer a origem da ansiedade de cada pessoa para ajudar a eliminar, diminuir e administrar os efeitos indesejados.

É preciso entender que a ansiedade é o resultado, nunca a causa. Quando o paciente se intitula ansioso, eu procuro guiá-lo para a crença de que ele não é ansioso, mas está ansioso. Estando ansioso, terá mais chance de deixar de estar. Por outro lado, se ele mantém a opinião de que é ansioso, implica que a mudança pode ser impossível porque estaria fora de seu controle deixar de ser o que sempre foi e é.

Se a pessoa compreender que a eficiência em atingir dado objetivo depende de sua opinião, poderá ter êxito na proposta de diminuir sua ansiedade.

Ansiedade é expressão natural do ser humano. O que requer preocupação é o nível de sua intensidade.

MinutoEstardeBem – Quando ela pode se tornar um problema de saúde?

Psicólogo Ronaldo – A ansiedade se torna problema de saúde quando alcança nível alarmante.

Para continuar o raciocínio é bom partir do simples para o complexo. Vamos pensar no ditado popular que diz que tudo em excesso faz mal. Por exemplo, a água pode causar a morte do organismo se não for ingerida, mas trará perdas se o nível estiver acima do aceitável.

A ansiedade segue percurso similar.

Um nível de ansiedade ajuda a preservar a vida. Por exemplo, eu ouço o barulho esquisito no motor do carro e pressinto que algo esteja fora dos eixos. O barulho me deixa ansioso por considerar que seja um alerta para situação mais complicada, como enguiçar na estrada ou provocar acidente.

Quando eu tomo providências, indo ao mecânico e consertando o que estava falho, recupero minha calma. O exemplo mostra como a ansiedade me ajudou a procurar o mecânico e evitar complicações maiores.

Podemos dizer que a ansiedade é disparada a partir de problemas corriqueiros. A situação se complica quando se buscar explicar por que diante do mesmo problema as pessoas reagem tão diferentes, umas desenvolvendo quadro de ansiedade patológica e outras não.

Para entender essa diferença, eu tenho focado em aspecto como autoestima e a qualidade do diálogo ao considerar que níveis alarmantes de ansiedade estão relacionados à maneira como a pessoa lida com suas relações interpessoais.

Por exemplo, o marido prometeu viagem para esposa e filhos. Mas, próximo à data prevista para a viagem, percebe que a situação financeira não permite arcar com os custos.

De um lado, o bom senso aconselha adiar em vez de se endividar. Seu estado ansioso é por temer ser chamado de mentiroso, que promete, mas não cumpre. Ainda que ansioso, expõe a situação para a esposa. Levando ou não broncas, seria esperado que deixasse de estar ansioso.

Mas se o marido tem baixa autoestima ou o diálogo conjugal está minado por conflitos e discussões, a bronca será incluída no rol dos desentendimentos, servindo para manter o estado ansioso.

A baixa autoestima favorece o agravamento das relações interpessoais, que por sua vez levará a ansiedade a níveis nocivos.

Ao perceber que problemas na relação conjugal provocam o quadro ansioso, é iniciado o processo de fortalecer a autoestima. Com a autoestima fortalecida, a pessoa estará mais ‘calma e equilibrada’ para guia a relação conjugal para patamar mais satisfatório.

É também bom considerar que o quadro ansioso pode desencadear a depressão, a agressividade e a ansiedade social.

MinutoEstardeBem – Quais são as causas da ansiedade?

Psicólogo Ronaldo – Muito do que é considerado como causa deve ser visto como resultado. No entanto, eu considero três causas básicas da ansiedade. Antes de elencá-las, devo alertar que elas representam minha opinião.

A primeira causa ou conceito mais global da ansiedade refere-se à baixa autoestima, como mencionado na pergunta anterior.

E o que é afinal a autoestima?

A autoestima é o conjunto de comportamentos que serve para o ser humano sobreviver socialmente. Similar ao nível de intensidade da ansiedade, o grau de autoestima sinaliza a qualidade desses comportamentos, quanto a serem ou não funcionais.

A pessoa com baixa autoestima tende a emitir comportamentos disfuncionais e acabar sendo incompreendida.

A segunda causa é por ter ‘aprendido’ que sendo ansioso pode aliviar a tensão provocada por conflito nas relações sociais. Aqui a pessoa teria aprendido a ser ansioso como modo de resolver ou driblar a situação conflitante.

Note que esse ‘entender’ nem sempre é consciente. Embora a pessoa ansiosa considere estranho falar que ela aprendeu a ser ‘ansiosa’, durante a terapia ela vai perceber a confiabilidade dessa afirmação.

A terceira seria a conjunção das duas causas anteriores. A baixa autoestima impede a pessoa de perceber que pode ter atitude assertiva, adequada na relação com as pessoas.

Ao mesmo em tempo que, acreditando está certa no esquema de apelar para traços ansiosos, a pessoa permanece emitir comportamentos ineficientes para os problemas que surgem, impedindo que a autoestima seja fortalecida.

MinutoEstardeBem – Quais malefícios esse sentimento pode gerar para o nosso organismo?

Psicólogo Ronaldo – Supondo que a ansiedade seja o sentimento de aflição, se esta permanece em níveis altos, haverá mais aflição, resultando em irritabilidade, insônia, distúrbio no apetite.

O organismo debilitado diminuirá a capacidade de ter clareza d problema que exige resolução. Não administrar os problemas em nível aceitável perpetua o ciclo negativo da ansiedade.

A ansiedade em nível elevado pode desenvolver comorbidades como dependência química, abuso de álcool, problemas gástricos, impotência sexual ou falta de interesse afetivo, consumo excessivo de cafeína, obesidades, compulsões.

Temos como exemplo a pessoa que bebe para se livrar da ansiedade. Quando o efeito do álcool passa, os sintomas da ansiedade voltarão à tona. E caso opte por beber todos os dias ou a cada vez que se sentir aflita, desenvolverá a dependência alcoólica.

Mesmo que tenha alto grau de tolerância alcoólica, usá-la como escape pode gerar a dependência.

Geralmente a pessoa procura o médico quando está com o organismo debilitado.

Ao suspeitar que a dependência química tenha origem na ansiedade, a maioria dos médicos encaminha o paciente ao psicólogo. Mas o paciente neste estágio é muito resistente psíquica e fisicamente à mudança de hábito.

Por isso, que a prevenção seria o ideal. Quando perceber que estar ficando mais nervoso do que a situação exige, que passa a metade do dia reclamando, fumando ou bebendo, é bom procurar ajuda profissional.

MinutoEstardeBem – Como podemos evitar a ansiedade? Quais dicas podemos seguir no nosso dia a dia para não sofrermos com esse sentimento?

Psicólogo Ronaldo – Descubra horas e momentos para relaxar, se desligar dos afazeres.

Se desligue o máximo possível de notícias negativas vindas de vizinhos, parentes e meios de comunicação. Não é se alienar, mas filtrar as notícias em termo de utilidade.

Para muitas pessoas, será ótimo aprender técnica de relaxamento e meditação para tranquilizar o corpo, suavizar a mente. Para outras pessoas, as atividades físicas como futebol, corrida, natação é que surte efeito positivo como válvula das tensões acumuladas.

Se você gosta da sua profissão, do seu local que trabalho e do seu salário, estará menos propenso a ceder espaço para a ansiedade, que neste caso, é provocada pelo estresse e insatisfação.

Se conseguir gastar menos do que ganha, estará livre dos pesadelos que atormentam os endividados.

Se conseguir cultivar o diálogo com a família, por exemplo, na hora das refeições verá como é gratificante.

Mas se você acha essas dicas distantes de sua realidade ou clichês, é sinal que deve procurar aconselhamento de um profissional.

Para evitar a ansiedade é preciso descobrir e manejar as condições que a produzem.

O trabalho de investigação psicológica se justifica porque cada pessoa pode desenvolver tipo particular de ansiedade. A causa que levou a pessoa A ter medo de dirigir pode ser diferente da que levou a pessoa B. Para identificar as causas, tem que se descobrir como a pessoa se relaciona consigo e com as pessoas a sua volta.

A partir dos conceitos aqui expostos, o profissional conduzirá a entrevista para identificar as causas que alimentam a ansiedade da pessoa.

O psicólogo pesquisa o histórico de vida para saber como cada um ‘aprendeu’ a ser ansioso. A ideia fundamental que quero partilhar é que se entenda que a pessoa é tão capaz de aprender a ser ansiosa quanto a desaprender.

É saudável mostrar para a pessoa a possibilidade de alcançar nível de vida mais prazerosa na medida em que ela se permita aprender novas maneiras de interagir. Para tanto, ela precisa descobrir seus pontos fortes e francos através de reflexões e tarefas que o terapeuta sugere.

MinutoEstardeBem –Crianças também podem sofrer com ansiedade? Por quê? Como os pais podem ajudar?

Psicólogo Ronaldo – Podem. Porém, em função do repertório de comportamentos e da idade da criança, é mais provável que o que entendemos como ansiedade infantil seja na verdade reflexo da ansiedade sentida nos pais ou nos adultos responsáveis por ela. É apenas um alerta: pais ansiosos geralmente contribuem para os filhos terem nível de ansiedade acima do considerado saudável.

Os pais – e os educadores – podem ajudar a criança na medida em que primeiro se ajudarem.